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15/05/2025 às 16:26

Rombo do INSS pode chegar a R$ 30 trilhões até 2100 e acende alerta sobre nova reforma da Previdência

No centro de uma nova crise política causada por fraudes e descontos indevidos nos benefícios de aposentados e pensionistas, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também preocupa por outro motivo: sua sustentabilidade financeira nas próximas décadas. Projeções do governo federal indicam que o déficit do sistema vai explodir, mesmo após a reforma aprovada em 2019.

Segundo estimativas incluídas no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, enviado ao Congresso em abril, o rombo do INSS mais do que quadruplicará até o fim do século. Em 2025, o déficit está previsto para atingir R$ 328 bilhões, o equivalente a 2,58% do PIB. Em 2100, a previsão é alarmante: o buraco pode chegar a R$ 30,88 trilhões, ou 11,59% do PIB.

Envelhecimento populacional acelera colapso

O principal fator por trás do colapso anunciado é o envelhecimento da população brasileira. Com menos nascimentos e aumento da expectativa de vida, haverá menos contribuintes para financiar um número crescente de aposentados. Atualmente, o modelo do INSS é o de repartição simples: os trabalhadores ativos bancam os benefícios dos inativos, sem um fundo individual por segurado.

Segundo o governo, a população com 60 anos ou mais deve saltar de 13,8% (em 2019) para 32,2% em 2060. Já o grupo em idade ativa (16 a 59 anos) cairá de 62,8% (2010) para 52,1% em 2060. Esse cenário, segundo o próprio governo, pressionará mudanças urgentes nas políticas públicas, principalmente na área previdenciária.

A reforma de 2019 não foi suficiente

Mesmo com a reforma aprovada no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro — que estabeleceu idade mínima para aposentadoria (65 anos para homens e 62 para mulheres), tempo de contribuição mínimo e mudanças no cálculo de benefícios —, os especialistas alertam: não é suficiente para conter o avanço do rombo.

Para o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Vital do Rêgo, a situação já passou do ponto de alerta:

“A Previdência é uma bomba que não vai parar de explodir. O paciente está debilitado e ainda não vemos o remédio necessário”, afirmou.

Nova reforma precisa acontecer em 2027, alertam especialistas

O economista Rogério Nagamine, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), defende que uma nova reforma seja feita o quanto antes — idealmente em 2027. Segundo ele, o Congresso enfraqueceu parte da proposta original em 2019 e questões fundamentais ficaram de fora.

Entre as medidas que deveriam estar na pauta da próxima reforma, ele lista:

Aumento da idade mínima para aposentadoria rural (hoje de 55 para mulheres e 60 para homens);

Revisão do regime do Microempreendedor Individual (MEI), que contribui pouco e gera grande déficit;

Criação de gatilhos automáticos para ajuste de idade ou benefícios conforme expectativa de vida;

Fim das regras especiais para servidores estaduais e municipais;

Extinção da paridade e integralidade para militares;

Redução da diferença de idade entre homens e mulheres.

Previdência consome mais que países com idosos

O economista Arnaldo Lima, da Polo Capital, acrescenta que o gasto previdenciário brasileiro já é maior, proporcionalmente, do que o de países com população muito mais idosa, como Grécia, França e Portugal. Enquanto o INSS representa cerca de 8% do PIB, o total da previdência brasileira — incluindo militares, servidores federais, estaduais e municipais — chega a 14,5% do PIB.

Lima também defende:

Aperfeiçoamento do regime de proteção dos militares;

Aprovação da PEC 66/2023, que estende regras federais aos estados e municípios;

Redução da judicialização nas aposentadorias especiais e no Auxílio-Acidente, que representam grande parte dos precatórios (mais de R$ 27 bilhões por ano);

Regulamentação da previdência complementar privada para ampliar cobertura de risco.

A avaliação dos economistas e do governo é clara: a Previdência precisa de um novo ajuste estrutural, antes que o rombo se torne irreversível. Com um sistema cada vez mais pressionado por uma população envelhecida e com menos contribuintes, o tempo para agir está se esgotando.


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