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18/11/2024 às 15:38

PRFs investigados por transportar drogas para o Comando Vermelho cobravam até R$ 2 mil por quilo de cocaína

Dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) são alvo de uma investigação da Polícia Federal (PF) que revelou o envolvimento de servidores da corporação no transporte de drogas para o Comando Vermelho (CV). Entre os investigados está Raphael Angelo Alves da Nóbrega, ex-lotado no Rio Grande do Norte, e Diego Dias Duarte, conhecido como “Robocop”. A dupla cobrava até R$ 2 mil por quilo de cocaína para realizar o transporte dos entorpecentes, conforme diálogos interceptados pela PF e divulgados pela coluna de Tácio Lorran, do Metrópoles.

As investigações apontaram que os agentes transportaram, em algumas ocasiões, mais de meia tonelada de drogas, o que poderia render até R$ 1 milhão em uma única operação. Além de Raphael e Diego, outros três policiais militares foram alvos da Operação Puritas, deflagrada pela Polícia Federal em 7 de novembro. Segundo a PF, o grupo criminoso era responsável pelo transporte de toneladas de entorpecentes, principalmente para abastecer o CV no estado do Ceará.

Raphael Angelo foi preso em flagrante em julho de 2023, em Canarana, Mato Grosso, enquanto transportava 542 kg de cocaína. Após capotar a caminhonete que dirigia, ele tentou fugir em um táxi, mas foi detido. À época, Raphael já estava sendo investigado por tráfico de drogas e trabalhava na unidade da PRF em Natal, no Rio Grande do Norte. A PF descobriu ainda que ele recebeu um Jeep Compass como pagamento por um dos transportes realizados.

Diego Duarte, atualmente lotado na PRF da Bahia, também possui histórico de atuação em Guajará-Mirim, Rondônia, na fronteira com a Bolívia. Ele foi preso durante a operação e, em sua residência, a PF encontrou um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil em espécie.

Além de transportar drogas, os agentes também forneciam serviços de contrainteligência e ajudavam o grupo criminoso a evitar fiscalizações. Eles compartilhavam informações sigilosas, como a localização de blitzes e operações, e indicavam rotas alternativas. Em contrapartida, traficantes como Heliomar, um dos líderes do esquema, ofereciam informações para que os policiais realizassem flagrantes contra quadrilhas rivais, o que fortalecia a imagem dos agentes como profissionais bem-sucedidos.

Parte das drogas apreendidas pelos agentes era repassada para Heliomar, que ficava com até 30% da carga. Segundo a PF, esse modelo de atuação contribuiu para o rápido crescimento da organização criminosa. Heliomar lavava o dinheiro do tráfico mantendo empresas em Porto Velho, Rondônia, incluindo um mercado, uma locadora de carros e uma transportadora.

Conversa revela esquema lucrativo

Interceptações telefônicas mostraram que os PRFs negociavam valores e discutiam estratégias para não serem flagrados. Em uma das conversas, Raphael e Diego consideraram “baixo” o pagamento de R$ 35 mil por 70 kg de cocaína, afirmando que o mínimo seria R$ 1,5 mil por quilo. Eles chegaram a adiar entregas por conta das festas de fim de ano, mas Heliomar pressionou, alegando que o transporte “abriria portas” para futuras operações.

Os policiais também utilizavam veículos alugados para dificultar a identificação pela inteligência da PRF. Raphael alugou sete carros em menos de dois anos, enquanto Diego fez o mesmo em 16 ocasiões, chegando a emprestar veículos locados para Heliomar. Segundo a PF, essa prática é comum entre traficantes, mas o envolvimento direto de agentes da PRF facilita o transporte ao reduzir o risco de fiscalização.

Com a quebra de sigilo bancário e telemático, a PF traçou rotas utilizadas pelo grupo e segue aprofundando as investigações. A organização criminosa poderá responder por tráfico interestadual de drogas, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O caso expõe um esquema sofisticado de corrupção dentro de uma das principais instituições de segurança do país.


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