Os primeiros sinais do Alzheimer em Maria Alice começaram em 2018, com esquecimentos e perdas de memória. A filha dela, Rai Lima, economista sergipana que mora em Curitiba (PR), buscou uma especialização em gerontologia para entender melhor a situação da mãe, que vive em Aracaju (SE).
Após diversas pesquisas, Rai encontrou na terapia com boneca uma forma de aliviar os sintomas do avanço da doença. A bebê reborn, batizada com o mesmo nome da mãe — Alice —, passou a ser um instrumento de vínculo emocional e de presença.
“Ela interage pouco hoje, mas quando está com a boneca no colo, segura forte, não quer largar. Se tentam tirar, ela resiste, diz ‘não’ ou segura com o braço. Isso é acolhimento. É como se estivesse abraçando a mim ou ao meu irmão ou aos netos dela”, afirma Rai.
Segundo ela, a terapia também ajuda a acalmar Maria Alice. “Se minha mãe está agitada, atrofiando as mãos, peço que vejam se ela precisa de algo: água, fralda… Mas, muitas vezes, só o toque da boneca a acalma. Quando colocam a boneca no colo dela, ela relaxa. Se tentam tirar, ela segura forte ou até reclama. É o jeito dela se expressar, de dizer que aquilo faz bem.”
Rai conta que decidiu comprar a boneca quando a mãe já estava em grau moderado da doença e não caminhava mais sozinha. Os traços da bebê reborn foram escolhidos por ela para se parecer com Maria Alice quando era criança.
“Escolhi os olhos claros, o narizinho… tudo para parecer com ela”, relata Rai.
As bonecas reborn têm características realistas, como pele, veias, peso e cabelo. Segundo o geriatra Luiz Antônio Sá, a terapia com bonecas pode ser aplicada com diferentes tipos de bonecas, mas alguns cuidados são necessários.
“Essa boneca tem que ter uma certa interação. Porque se for uma boneca que não abre os olhos, que não tem um mínimo de interação, não vai cativar o paciente. Então, nesse caso, o bebê reborn cumpre muito bem o seu papel”, explica o médico.
Ele afirma que a técnica não substitui o acompanhamento médico, mas pode ajudar em casos de demência, especialmente na fase intermediária.
“Um estudo inglês mostra que houve uma diminuição: antes das bonecas, 92% dos pacientes tomavam antipsicóticos. Com o uso das bonecas, caiu para 28%. Então, realmente, é um dado importante que a gente deve levar em consideração”, afirma Sá.
De acordo com ele, a terapia apresentou resultados positivos em pacientes agressivos, apáticos e agitados, e pode ser adotada tanto com homens quanto com mulheres. No entanto, não deve ser aplicada a todos os idosos sem uma avaliação prévia.
“Nem todo mundo gosta dessa terapia. Por exemplo, se eu tenho uma pessoa que nunca gostou de criança, não ofereça. A minha mãe sempre foi uma mãezona, aquela que balançava a gente, acariciava. Para ela é um suporte emocional muito bom”, conta Rai.
O médico orienta também que a introdução da boneca seja feita com cuidado, sem entregá-la como presente, mas aos poucos, incorporando-a à rotina da pessoa.
Rai reforça que a prática não deve ser confundida com brincadeira infantil.
“Não podemos infantilizar o idoso. Isso é desrespeitoso. O idoso não volta a ser criança. Ele apenas está vivendo outra etapa da vida, com outras necessidades. O idoso tem história, tem trajetória”, afirma.
Mesmo morando em outro estado, Rai acompanha a rotina da mãe à distância, orienta as cuidadoras e busca manter os cuidados paliativos.
Segundo o Ministério da Saúde, esses cuidados são voltados para pessoas com doenças graves, progressivas ou com risco de vida, com foco no alívio da dor, no controle de sintomas e no apoio emocional.
“Não é porque a pessoa está perto do fim que não podemos proporcionar uma vida mais confortável e digna. É isso que eu aprendi e quero compartilhar”, conclui Rai.