Os preços da ceia natalina no Brasil já apresentam um aumento de 8% em relação ao ano passado, conforme levantamento realizado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras). De acordo com a pesquisa, o valor médio da cesta com produtos típicos de Natal, composta por dez itens como aves natalinas, azeite, caixa de bombom, espumante, lombo, panetone, pernil, peru, sidra e tender, foi calculado em R$ 345,83 na última semana de novembro, o que representa um acréscimo de R$ 24,70 em relação aos R$ 321,13 registrados em 2023. A expectativa é que os preços continuem a subir, com projeção de aumento de até 12% até o final do ano. No Nordeste, a variação já é de 7,6%, com preço médio de R$ 346,24.
Entre os itens que mais subiram, o levantamento da Abras apontou um aumento de 18,8% no preço do bacalhau, seguido por nozes e castanhas (16,3%), pernil (15,3%), frutas secas (15,1%) e frutas especiais (15%). Outros produtos como chocolates (13,6%), carne bovina (13,5%) e peixes (12,5%) também apresentaram aumento. No segmento de carnes, o lombo teve alta de 12,9%, o chester subiu 11,7%, o tender 11,5%, o frango 10%, o peru 10% e os ovos aumentaram 7,5%. Entre os doces, o panetone subiu 9,8%, o chocotone 8,4%, e os biscoitos registraram um aumento de 12%.
Em relação às bebidas, o preço do vinho subiu, acompanhado pela elevação dos destilados (11,1%), refrigerantes (10,9%) e espumantes (10,7%). A disparada nos preços não passou despercebida pelos consumidores, que já estão atentos aos aumentos. A vendedora Luciane Siqueira, de 41 anos, afirmou que, apesar dos altos preços, não abrirá mão de celebrar a ceia com a família. “Já vi que o pernil está bem caro, mas pretendo comprar mesmo assim. Lá em casa, ficamos um ano sem comemorar o Natal depois que perdi minha mãe para a covid-19. Mas sei que ela gostaria que essa data não passasse em branco. Então, vale a pena botar a mão no bolso e celebrar”, disse Luciane.
Já a autônoma Tatiane Vasconcelos, de 37 anos, comentou que notou o aumento no preço de itens como frango, chester, arroz e frutas e considerou até substituir alguns produtos, embora ainda não soubesse ao certo como faria. “Até dá vontade de desistir da ceia. Vou ver se consigo substituir algum item, mas ainda não sei ao certo. No final das contas, o importante é comemorar”, afirmou Tatiane.
O economista Thales Penha, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UFRN, explicou que a alta nos preços se deve a diversos fatores, como o impacto do dólar, uma vez que muitos insumos utilizados na produção agrícola são importados, o que acaba afetando os custos. Além disso, problemas climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, afetaram a produção nacional de grãos e soja, o que também contribuiu para a inflação dos alimentos.
Apesar dos aumentos já registrados, o presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn), Mikelyson Góis, acredita que a projeção da Abras de um aumento de 12% até o final do ano não se concretizará. Segundo ele, os supermercados devem buscar segurar a margem de lucro e evitar repassar os custos elevados aos consumidores. Ele também lembrou que os estoques das lojas, comprados há dois meses, ajudarão a regular os preços. “Os aumentos dos preços dos produtos que compõem a ceia são sazonais. Com a chegada das temperaturas altas, haverá mais aumentos, mas os supermercados mantêm estoques com compras feitas há dois meses. Agora, quando houver a renovação desses itens, os preços começam a ‘pipocar’”, explicou Góis.
Thales Penha acrescentou que a projeção de aumento dependerá da forma como os supermercados lidam com o comportamento dos consumidores após a alta já registrada. “Os supermercados vão ponderar se é melhor repassar todo o preço ao consumidor ou se é melhor segurar uma parte e vender mais. E é preciso lembrar que vivemos um momento de crescimento de renda, o que também é levado em consideração pelos supermercados. Se perceberem que a economia está aquecida e que o aumento de 8% não está impactando tanto as compras, podem repassar os custos inteiros”, avaliou.
Mikelyson Góis também se mostrou otimista em relação à temporada de Natal, apesar dos desafios. “O setor entende que, mesmo com toda dificuldade, as pessoas sempre dão um jeito de se reunir. Mas, no final das contas, sempre há uma incógnita”, afirmou o presidente da Assurn, sinalizando a incerteza que ainda paira sobre o mercado.