A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da obesidade no Brasil. Com a nova indicação, o remédio poderá ser prescrito para adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 — critério para diagnóstico de obesidade — ou para pessoas com sobrepeso (IMC a partir de 27) que apresentem comorbidades associadas, como hipertensão, colesterol alto ou pré-diabetes.
A aprovação marca um novo capítulo no combate à obesidade no país. Até então, o medicamento era indicado exclusivamente para o tratamento do diabetes tipo 2. Segundo o diretor médico sênior da farmacêutica Eli Lilly no Brasil, Luiz André Magno, a liberação para uso contra obesidade só foi possível agora porque os estudos clínicos foram apresentados em fases: primeiro, os focados em diabetes; depois, os direcionados à perda de peso.
Para o presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Dr. Fábio Trujilho, a inclusão da nova indicação representa um avanço. “É um medicamento que vem para mudar a história do tratamento da obesidade. Ele tem alta potência para perda de peso, excelente segurança e ainda auxilia em outras comorbidades, como diabetes e apneia do sono”, destacou.
Outro ponto importante, segundo Trujilho, é que a inclusão da obesidade na bula do Mounjaro permite que hospitais e planos de saúde considerem o reembolso — ao menos parcial — dos custos do tratamento, já que o uso deixa de ser considerado "off label" (fora da indicação oficial).
Como o Mounjaro age no organismo
De aplicação injetável semanal, a tirzepatida é classificada como um “duplo agonista”, por agir sobre dois hormônios intestinais: GLP-1 e GIP (peptídeo inibidor gástrico). A ação combinada proporciona maior eficácia no controle da saciedade e dos níveis de açúcar no sangue, em comparação com medicamentos como o Ozempic e o Wegovy, que atuam apenas no GLP-1.
Nos estudos clínicos, o Mounjaro demonstrou resultados superiores à semaglutida, princípio ativo dos remédios da concorrente Novo Nordisk. Após 72 semanas de uso, pacientes que utilizaram tirzepatida perderam, em média, 20,2% do peso corporal — o equivalente a 22,8 kg — enquanto aqueles tratados com semaglutida apresentaram perda de 13,7% (cerca de 15 kg). A redução média na circunferência abdominal também foi maior: 18,4 cm com tirzepatida, contra 13 cm com semaglutida.
Como é feito o tratamento
O tratamento com Mounjaro deve ser feito sob acompanhamento médico. A dosagem começa com 2,5 mg e pode evoluir progressivamente até 15 mg, passando por doses intermediárias (5 mg, 7,5 mg, 10 mg e 12,5 mg). Entre os efeitos colaterais estão náuseas, hipoglicemia e desconfortos gastrointestinais.
Quanto custa o Mounjaro no Brasil?
O medicamento chegou ao país com dois regimes de preço: um com desconto via o programa de fidelidade Lilly Melhor Para Você (com adesão gratuita), e outro com preço integral.
Com programa de fidelidade (preços médios):
– 2,5 mg: R$ 1.406,75 (e-commerce) / R$ 1.506,76 (loja física)
– 5 mg: R$ 1.759,64 (e-commerce) / R$ 1.859,65 (loja física)
Sem programa de fidelidade (preço máximo sugerido, com ICMS de 18%):
– 2,5 mg: até R$ 1.907,29
– 5 mg: até R$ 2.384,34
Nova regra da Anvisa: retenção obrigatória da receita
Para evitar o uso indiscriminado, a Anvisa determinou que medicamentos da classe do Mounjaro só poderão ser vendidos mediante retenção de receita médica. A regra passa a valer neste mês de junho, dois meses após a publicação no Diário Oficial da União.
O Mounjaro tem tarja vermelha, o que indica que oferece risco intermediário de efeitos adversos e exige prescrição e acompanhamento profissional.